quarta-feira, 3 de julho de 2013

O ardiloso plano petista

A surdez de Dilma

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Pedro Ladeira – AFP


Por: Onyx Lorenzoni
O governo tem 80% dos deputados em sua base política que nunca quis aprovar a reforma política. Agora, Dilma pretende usar a pressão das ruas para viabilizar a reforma que lhe for mais conveniente do ponto de vista eleitoral.
Esse plebiscito é um grande desperdício de dinheiro. É uma aventura que, se for aprovada, custará 500 milhões. Meio bilhão de reais do dinheiro público gastos para os interesses eleitorais dquer debater) uma reforma política “a jato” em tempo de ser colocado em prática na eleição. Nesse atropelo, fica desprezada a necessidade de uma ampla discussão do assunto com a sociedade para que os eleitores possam entender aquilo que estão sendo chamados a escolher. Fica desprezado, que esse dinheiro seria muito melhor empregado para melhorar as condições da saúde no Brasil.
Além da questão do gasto, existe a questão do método. Muito mais correto seria fazer um referendo. Um plebiscito é um “cheque em branco” para o congresso preencher como achar melhor sobre o tema aprovado. Diferente de um referendo em que é uma proposta acabada que é levada ao povo para que ele diga se está de acordo. E, pra piorar a situação, no referendo do desarmamento a população de manifestou maciçamente contraria a proposta do governo, mas foi solenemente e sistematicamente ignorada. Uma evidente demonstração de que o governo é capaz de consultar e depois ignorar a vontade do povo.
Além dos 500 milhões, há a inflação do apoio político. A iniciativa do plebiscito tem que partir do congresso e tem que começar com o apoio de 3/5 dos votos. Isso quer dizer que aqueles deputados que antes não deram apoio à proposta de reforma política apresentada pelo deputado Henrique Fontana serão “constrangidos” a apoiá-la.
Dizendo sem rodeios, o governo quer aprovar algo no congresso e não quer perder tempo com discussões políticas com o parlamento. Caso alguém tenha dúvida, essa é a lógica que criou e sustentou o mensalão. O governo aprendeu com o escândalo e, ao que tudo indica, não usa mais esse método. Por outro lado, aperfeiçoou outro modo de agir. Em vez de malas de dinheiro agora, a troca é na base de cargos e até de ministérios (39) criados como forma de incorporar novos aliados.
As derrotas do governo no congresso são consequência da inflação na compra de apoios. Como se trata de uma negociação segue as leis do mercado. A lei da oferta e da procura. Quem precisa muito de alguma coisa acaba pagando caro por aquilo que deseja.
Se por um lado a presidente conta com a pressão das ruas para baixar o “preço” da adesão, por outro lado enfrentará o histórico desinteresse da base pelo assunto. Também pesam contra o governo dois outros fatos: a pressa e a necessidade do governo
Essa proposta tem que tramitar muito rápido e a dedicação e disciplina custarão caro. Além disso, está claro que o governo “precisa” de boas noticias para interromper a sequência de notícias ruins e colocar em prática sua estratégia diversionista. O preço do apoio vai subir…
Se a popularidade da presidente Dilma continuar caindo, então, essa inflação ficará insustentável. Essa lealdade “de interesse” vai se esvaziar rapidamente ou vai inflacionar ainda mais seu apoio. Provavelmente ambos.
Há que se reconhecer que as manobras diversionistas têm tido relativo sucesso. Boa parte da imprensa parece ter perdido o senso crítico, dando sustentação e credibilidade para qualquer bobagem que seja dita pela presidente. Se ela propõe uma constituinte o assunto é tratado como uma realidade e não com proposta e poucas ressalvas e críticas são levantadas sobre o assunto.
Um último ponto importante é que quem tem interesse na reforma política é o governo e não os manifestantes. O que os manifestantes pedem é o fim da impunidade.
É fato que a reforma aparece em algumas listas de reivindicações, mas também esteve ausente em muitas outras. A maior parte destes cartazes protestavam contra o desperdício do dinheiro público, corrupção e principalmente contra os serviços públicos de baixíssima qualidade. A população pede por Estado eficiente, que atenda as suas necessidades e lhe trate como prioridade. A presidente responde, de forma oportunista, com uma reforma relâmpago para se recuperar eleitoralmente (a si e seu partido) do desgaste causado pela incompetência de seu governo.
 De tudo o que foi dito, resta apenas uma certeza. Dilma disse que está atenta e que vai ouvir a voz das ruas. Mas com uma surdez tão severa, a única voz que ela ouve é a da sua própria cabeça. Pobres de nós.